Envolvidos em recente movimento de fusões e com ampliação dos lucros nos últimos anos, os grandes grupos educacionais sentiram com menor intensidade os impactos da alta na inadimplência nas mensalidades das faculdades registrada em 2015.
A taxa no país chegou a 8,8%, a maior desde 2010. Entre as empresas de grande porte, com mais de 7.000 alunos, a inadimplência também cresceu, mas continuou abaixo da média. Passou de 6,7% em 2014 para 7,1% em 2015, conforme a pesquisa do Semesp (sindicato das mantenedoras de ensino superior).
O diretor-executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, diz que os resultados não chegam a trazer pessimismo para as grandes empresas do setor. “Não alterou um quadro que vem do ano passado.” Ele afirma que esse grupos têm maior capacidade que as pequenas empresas para manter os alunos com descontos e bolsas.
“O movimento de aquisições está acontecendo entre grandes grupos e a inadimplência acaba penalizando as pequenas e médias instituições, que têm menos mecanismos de cobrança”, avalia Carlos Monteiro, consultor em ensino superior da CM Consultoria.
A alta na inadimplência do setor se deve à crise econômica, aumento do desemprego, mas sobretudo às restrições no Fies (financiamento estudantil federal) a partir de 2015. No ano passado, muitos alunos se matricularam com a expectativa de conseguir financiamento. Sem conseguir, ficaram na instituição sem condições de arcar com as mensalidades.
Mesmo com as restrições no Fies, os grandes grupos educacionais, com capital aberto na bolsa de valores, ampliaram os lucros. Entre 2011 a 2015, a receita bruta das empresas de educação com capital aberto (Kroton-Anhanguera, Anima, Ser Educacional e Estácio) cresceu 328%.
O levantamento, divulgado em maio, foi realizado a pedido da Fepesp (Federação dos Professores do Estado de São Paulo) pelo professor Oscar Malvessi, da FGV (Fundação Getulio Vargas). O docente utilizou as informações dos balanços financeiros e notas explicativas divulgadas ao mercado pelas empresa.
Na sexta-feira (8), os conselhos de administração da Kroton e Estácio assinaram contrato para unir as duas companhias
Os quatro grupos de capital aberto tiveram alta de 7,7% nas matrículas entre 2014 e 2015. Até 2014, as faculdades e universidades desses grupos concentravam 23% de todos os contratos do Fies.
No ano passado, o governo federal desembolsou cerca de R$ 14,4 bilhões no programa, que chegou a 2,2 milhões de contratos. Neste ano, os repasses pelo Fies somam R$ 7,9 bilhões, segundo dados do Portal da Transparência do governo federal.
O financiamento estudantil federal passou a representar ganhos garantidos para as empresas, diminuindo o risco de inadimplência, e possibilitaram a cobrança de mensalidades mais altas.
Diante do boom do Fies, a partir de 2010, as instituições de ensino superior reverteram a tendência de aumento das mensalidades que era registrada entre 2000 e 2010. As mensalidades voltaram a crescer a partir de 2011, coincidindo com a alta no número de contratos do Fies. Não por acaso, as taxas de inadimplência caíram de 2010 a 2014.
O governo restringiu o acesso ao Fies a partir do ano passado e, em 2016, abriu 222 mil vagas. Mesmo com esse movimento, as mensalidades continuaram a crescer em 2016. Segundo dados da CM, a alta foi de 4%.
As grandes empresas ainda mantém as apostas no ensino à distância. Para a fusão Kroton/Estácio ser concretizada, a operação precisa passar pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). O motivo é a concentração no segmento de ensino remoto. Só instituições ligadas à Kroton concentram cerca de 40% do total de matrículas da modalidade.