As quatro companhias de educação com ações em bolsa – Anima, Estácio, Kroton e Ser Educacional – devem receber juntas cerca de R$ 2,3 bilhões em títulos do programa de financiamento estudantil do governo (Fies) no primeiro semestre, segundo levantamento da corretora Bradesco BBI. Com um caixa mais robusto, as atenções se voltam para as aquisições. Essa estratégia de expansão, que ficou em segundo plano em 2015, é vista pelos grandes grupos como uma alternativa para ganhar mercado, num cenário de crescimento orgânico difícil devido à crise econômica e à redução do Fies.
Além das aquisições, os recursos também devem ser usados para recompra de ações, capital de giro, pagamento de dividendos e subsídio para financiamento estudantil privado.
O montante de R$ 2,3 bilhões refere-se à soma de duas parcelas de Fies não quitadas pelo Ministério da Educação (MEC) em 2015 e seis mensalidades deste primeiro semestre. No ano passado, o governo quitou apenas 7 das 12 parcelas devidas às instituições. O MEC se comprometeu a pagar uma parcela atrasada neste ano, outra em 2017 e duas em 2018. Além disso, a mensalidade de dezembro também não foi paga e deve ser acertada em junho.
Do valor total, a maior fatia será recebida pela Kroton: R$ 1,2 bilhão até o mês que vem. Além disso, o maior grupo de ensino privado do país deve ter o caixa reforçado por R$ 400 milhões referentes à parte do pagamento pela venda da Uniasselvi, instituição de ensino a distância comprada pelo Carlyle no fim do ano passado por até R$ 1,1 bilhão.
“Ainda há muito espaço para aquisições. Gostamos e sabemos jogar esse jogo”, disse Rodrigo Galindo, presidente da Kroton, em teleconferência para analistas na semana passada. A preferência é por ativos de ensino presencial. Outra prioridade na alocação de recursos da companhia é o programa de parcelamento de mensalidades para calouros subsidiado pela própria Kroton. No acumulado do ano, a geração de caixa da Kroton deve ficar na casa dos R$ 2,2 bilhões, incluindo Fies e Uniasselvi.
“Esperamos que a Kroton gere um caixa de R$ 1,8 bilhão neste ano e R$ 2,1 bilhões em 2017, o que permite à companhia considerar qualquer transação de M&A [fusão e aquisição] no Brasil, incluindo os dez maiores grupos de ensino superior. Contudo, acreditamos que apenas dois ou três nomes seriam aquisições capazes de gerar valor considerável para os acionistas da Kroton tendo em vista o enorme tamanho que a empresa atingiu”, destacam Luiz Azevedo e Tales Freire, analistas da Bradesco BBI, lembrando que a Kroton tem no radar 49 ativos com mais de 3 mil estudantes, cada.
A Estácio receberá cerca de R$ 700 milhões em títulos de Fies até julho e vai terminar o ano com uma geração de caixa entre R$ 500 milhões e R$ 600 milhões. Questionado sobre a destinação dos recursos, o presidente da Estácio, Rogério Melzi, disse que o dinheiro pode ser usado em um novo programa de recompra de ações e também aquisições. “No atual cenário, as aquisições podem ser feitas com pagamento parcelado, o que não gera saída de caixa”, disse Melzi.
Os analistas da Bradesco BBI defendem a recompra das ações por parte da Estácio. “A remuneração ao acionista parece ser a melhor forma de alocação de capital. Devido à baixa valorização do papel, acreditamos que a recompra das ações seria mais lucrativa do que novas aquisições”, avaliam os analistas. Eles argumentam que nas últimas aquisições, a Estácio pagou em média R$ 8 mil por aluno, mas hoje o valor de mercado da companhia equivale a R$ 7,2 mil por aluno. “Portanto, mesmo se considerarmos um grande desconto sobre o preço pago por aquisições futuras, seria difícil justificar uma aquisição como sendo mais atraente do que a recompra de ações”, afirmam Azevedo e Freire.
Ainda de acordo com levantamento da Bradesco BBI, a Ser Educacional terá em seu caixa R$ 260 milhões de títulos do Fies e a Anima deve receber R$ 150 milhões.
Por Beth Koike | De São Paulo
Fonte: http://www.valor.com.br/empresas/4566157/com-caixa-grupos-retomam-aquisicoes