Kroton avalia compra da Estácio para criar gigante de 1,6 milhão de alunos
DAYANNE SOUSA – O ESTADO DE S.PAULO
03 Junho 2016 | 05h 00 – Atualizado: 03 Junho 2016 | 05h 00
Três anos após adquirir a Anhanguera e criar a maior empresa de ensino superior privado do mundo, a Kroton anunciou que planeja incorporar a 2ª empresa do ranking
Há três anos, a gigante de ensino Kroton Educacional surpreendeu o mercado ao anunciar uma união com a então rival Anhanguera e formar a maior empresa de ensino superior privado do mundo, com cerca de 1 milhão de alunos. Nesta quinta-feira, 2, a maior companhia de ensino privado do País voltou a mostrar que o seu apetite por aquisições está longe de acabar: a empresa informou ao mercado a intenção de incorporar a Estácio Participações, a segunda maior do ranking, com seus quase 600 mil estudantes.
Em fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Kroton anunciou que está avaliando a compra da concorrente em uma operação envolvendo apenas ações. A empresa disse ainda que já contratou o Itaú BBA e o escritório de advocacia Barbosa Müssnich Aragão para assessorá-la em uma eventual transação.
Segundo a Kroton, a transação tem “forte racional estratégico”, em razão do “amplo potencial de sinergias” e da “alta complementaridade geográfica”. No ensino presencial, a Kroton tem operações mais concentradas no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, enquanto a Estácio possui câmpus em todos os Estados do Nordeste e em alguns da região Norte.
Os planos da líder de mercado ocorrem em meio à redução das verbas federais para o financiamento do ensino superior privado por meio do Fies e à recessão no País, que trouxeram dificuldades ao setor de ensino superior privado na captação e na retenção de alunos.
Segundo a Kroton, a relação de troca avaliada internamente pela companhia para a empreitada seria de 0,977 ação da Kroton para cada 1 ação da Estácio, com base no preço médio dos últimos 30 pregões na BM&FBovespa anteriores ao anúncio.
“É importante ressaltar, no entanto, que não há negociações em curso com qualquer membro da administração da Estácio, e, tampouco, nenhum acordo celebrado ou proposta formulada entre tais companhias”, afirmou a Kroton.
Após o anúncio da concorrente, a Estácio divulgou comunicado afirmando que “não há quaisquer entendimentos em curso pela administração da companhia com a Kroton” e que apenas ficou sabendo do interesse da rival ontem. Segundo fonte próxima ao assunto, o conselho de administração da Estácio pretende se reunir ainda nesta semana para discutir a oferta de compra não solicitada.
No mercado, as ações ordinárias, com direito a voto, das duas empresas lideraram as altas da BM&FBovespa. Os papéis da Estácio subiram 23,74% e os da Kroton, 13,56%.
Barreiras. O processo, que pode gerar ganhos de sinergias estimados em até R$ 8 bilhões, deve precisar superar, assim como ocorreu há três anos, eventuais divergências de acionistas e restrições do Cade.
Assim como no caso da Anhanguera, a Estácio é uma empresa de capital pulverizado e sem controlador definido. A concretização do negócio depende, portanto, da base de acionistas minoritários, formada sobretudo por fundos como o Coronation e a Oppenheimer.
A Estácio tem ainda um outro acionista relevante de fora do mercado financeiro: o empresário Chaim Zaher, que tem 12% do capital junto com sua filha, Thamila, e é membro do conselho da companhia. Zaher fundou a UniSeb, instituição de ensino à distância comprada pela Estácio em 2013.
Um dos desafios da Kroton nas negociações, na avaliação de analistas, estará justamente em convencer esses acionistas. Para o Credit Suisse, a relação de troca de ações proposta precisará se tornar mais atraente para que uma negociação seja concluída. Em 2013, a definição de uma relação de troca já havia sido o principal embate, com acionistas reclamando de uma avaliação injusta da Anhanguera.
Outro fator de peso são possíveis restrições a que o negócio poderia ser submetido no Cade. O principal ponto de atenção é o ensino a distância (EAD). Kroton e Estácio juntas teriam mais da metade das matrículas totais no EAD brasileiro, segundo dados do Ministério da Educação. Os números mais recentes ainda são os de 2014, mas naquele ano a Kroton já detinha 45% do mercado de EAD e, a Estácio, cerca de 7%.
“A concentração em ensino à distância pode ser um problema, o que pode requerer desinvestimentos relevantes, e até uma quebra de negócio”, reforçou o JP Morgan em relatório.
Quando da fusão com a Anhanguera, a concentração no EAD foi considerada um problema pelo Cade. O órgão determinou a venda da Uniasselvi pela Kroton, mas, mesmo com essa venda, a Kroton cresceu no EAD de forma orgânica, tendo obtido autorização do governo para operar novos polos de ensino a distância. / COM REUTERS